Francisco Reis Ferreira, defesa central que veste a camisola do S.L. Benfica há três épocas, conta com três internacionalizações ao serviço da equipa das Quinas. Recentemente, tem sido destacado pelas suas prestações, a mais relevante fruto dos dois golos que marcou no derby de Juvenis A e pela notícia do contrato profissional assinado no passado dia 6. Com seis anos de ligação ao S.L. Benfica, tomou o gosto pelo futebol na União Desportiva Oliveirense, clube onde jogava quando recebeu o primeiro convite, em 2009, para vestir a camisola de águia ao peito. Vamos conhecer dimensões da vida deste jogador que extravasam os relvados. O desafio de viver longe da família, a sua forma de estar e de ser, e as suas expectativas para o futuro.
1- Como foi o início da tua história no S.L Benfica? Quando tinha 12 anos, recebi o primeiro convite para integrar a equipa do S.L. Benfica e residir no centro de estágio. Porém, estive lá apenas dezoito dias… Não me adaptei porque nunca tinha estado tanto tempo longe dos meus pais. Não estava habituado a ter tanta autonomia e, com esta separação, não me senti preparado para dar este passo. Integrei a equipa da Associação Desportiva de Taboeira mas o Benfica continuou a acompanhar o meu percurso.
2- Quando voltaste? Que mudanças ocorreram? Mudou muita coisa… Voltei aos 14 anos. Aprendi a ser autónomo e a decidir com mais segurança. O Benfica trabalhou muito bem comigo porque me levou a muitos torneios com o objectivo de me integrar progressivamente na equipa, adaptar-me a estar com os meus colegas e menos dependente da minha família. Apesar da separação precoce, sinto que não abdiquei da minha infância porque fui eu que escolhi isto para a vida! Hoje, claro que não posso sair à noite nem fazer metade do que muitos dos meus colegas fazem, mas eles não sonham com o mesmo que eu sonho, que é ser profissional de futebol.
3- Aos 16 anos, como vês esta situação de viveres longe da tua família? Agora já era estranho voltar a viver com a minha família… Claro que me fazem muita falta mas cresci e sinto-me uma pessoa responsável, independente, madura e melhor preparada para o que a vida me pode proporcionar.
4- Estando longe dos teus pais, a tua responsabilidade em relação à escola é acrescida? Claro que sim! Continuo a contar com o apoio dos meus pais e do Benfica. Apesar do pouco tempo que tenho para estudar, tenho conseguido boas notas. Não sendo a escola a minha principal prioridade, sinto que é importante porque neste mundo do futebol nada é certo. O próprio clube também nos incentiva a conciliar os dois mundos.
5-De que forma veio a tua vinda para o Seixal alterar as rotinas da tua família? A minha família já tinha o hábito de ver jogos de futebol ao fim de semana, os do meu irmão. A partir do momento em que vim para cá, os fins de semana são diferentes. Vêm ao Seixal e passam o sábado ou o domingo, dependendo do dia do meu jogo. Sendo mais cansativo para eles, é imprescindível para mim o seu apoio. Eles sabem-no e, por isso, fazem-no com muito gosto.
6-Em termos quantitativos, quanto tempo, por ano, estás com a tua família? E qualitativamente, como defines esse tempo? Estou uma vez por semana e nas férias escolares. Não é muito tempo, mas o suficiente para me darem forças para continuar. O tempo que passo com eles e fantástico! Brincamos, rimos, falamos (a brincar ou até mesmo a sério!) e aproveitamos ao máximo! Graças a Deus, somos uma família muito feliz!
7- Qual o conselho mais frequente que eles te dão? Dizem-me muitas vezes “Mantém os pés assentes no chão e, acima de tudo, tem humildade! Ainda não és ninguém! Lembra-te de onde vieste.”
8-Do que sentes mais falta da tua terra? Da família, dos meus amigos e das minhas amigas, do cabeleireiro e das francesinhas!
9-Amigos à distância é sinónimo de distância na amizade?
Não! Claro que não! A distancia não significa nada! Os meus melhores amigos continuam a ser do norte. A distância afasta corpos mas não afasta sentimentos.
10-O que é, para ti, a saudade? É algo que não se descreve mas se sente, muito mesmo! Nada melhor que esta frase do Bob Marley para descrever o que é, para mim, a saudade: “Saudade é um sentimento que quando não cabe no coração, escorre pelos olhos.”
11- No que te refugias quando sentes saudades? A conversar com os meus amigos, ligando aos meus pais e mantendo-me muito ocupado.
12-Qual é o teu lema de vida? “Não cruzes os braços diante uma dificuldade pois o maior homem do mundo morreu de braços abertos”, é o meu lema.
13- Terminamos com a pergunta 13, número que representa, para ti, o peso da camisola de Portugal. Quais são as tuas ambições no futebol? A curto prazo, continuar a crescer como jogador e evoluir, porque ainda há um longo caminho para percorrer. A longo prazo, espero ser jogar na equipa A do Benfica e representar a selecção nacional A.
Crescer com bases sólidas no futebol e na vida é uma tarefa do clube e das famílias que superam distâncias para estarem constantemente perto. A separação precoce da família é, muitas vezes, o primeiro embate na carreira de um jogador, processo altamente competitivo, de superação e de auto-conhecimento. Uma criança que se tornou jovem mais cedo, um jovem que encara desafios adultos. Este foi o relato, na primeira pessoa, de Francisco Ferreira.
Entrevista da autoria de Maria Serrano
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